Para Inaugurar o Capítulo ECOLOGIA E PAGANISMO trago a vocês esse texto reflexivo sobre a vida de um neo pagão.
Uma Atitude Pagã
A
palavra “pagão” deriva do antigo latim paganus,
que significa “aquele que vive na Natureza; rural.” Blá blá blá... Mas hoje,
quando a maioria de nós vive em cidades grandes, em seus prédios longilíneos,
afastados do solo, imersos em grandes nuvens de fumaça e poluição, o que quer
dizer a palavra “pagão”? Para os católicos basta que você não tenha sido
batizado para ser considerado pagão, para os evangélicos a simples menção da
palavra é assustadora, para os bruxos é quase uma poesia. Cada um significa de
formas diferentes, mas se pensarmos na palavra como ela é, o que
descobriríamos?
Se
pagãos eram aqueles povos que vivenciavam a Natureza e a reconheciam como forma
manifesta da(s) divindade(s) criadora(s) do Universo então sinto lhes informar,
mas conheço muitos bruxos por aí que não são nem um pouco pagãos. Antigamente o
culto à terra estava intimamente ligado à sobrevivência do homem, caso você não
pedisse à Mãe que lhe trouxesse prosperidade na colheita dos grãos,
provavelmente lhe faltaria comida durante o inverno e você correria o risco de
morrer de fome. O caçador que não tivesse a força e o vigor concedidos pelo Pai
jamais seria capaz de abater sua presa e dificilmente seria respeitado em sua
tribo. O culto era uma questão de vida ou morte, a benção dos deuses era um
limiar entre a sua extinção e a manutenção da sua vida. Hoje é possível ir ao
mercado, passar o cartão de crédito e comprar tudo aquilo que desejamos (ou mais
ou menos isso). Não precisamos lavrar a terra, semear, esperar o germinar das
sementes, cuidar das pequenas plantas e muito menos colher os frutos. Mas ainda
assim nos consideramos pagão (ou neo-pagãos como é moda dizer). Por que?
Certamente
nosso campo de batalha mudou. Não caçamos nossa comida, não plantamos tudo
aquilo que precisamos e definitivamente não nos enredamos em batalhas
sangrentas a fim de defender nosso território (pelo menos eu não tenho visto
cabeças espetadas no muro da casa de ninguém). Resignificar o termo pagão é tão
essencial para nós quanto adquirir um sistema imunológico mais forte. O
(Neo)Paganismo não está mais baseado na colheita e na caça, mas mantém-se firme
na ideologia de que a Natureza é a manifestação primordial da divindade.
Trazemos para nossa realidade a necessidade não tão recente de preservar uma
Natureza destruída e principalmente uma humanidade desumana.
Atitudes
pagãs, contemporâneas, poderiam ser aquelas que muitas vezes esquecemos de
fazer ou não damos importância verdadeiramente. Separar o lixo reciclável do
orgânico, diminuir nosso tempo de banho, economizar energia elétrica, evitar o
desperdício de alimento. Todas coisas muito pequenas que, no nosso dia-a-dia
corrido e cheio de compromissos, parecem obsoletas, mas certamente refletem
nosso nível de consciência pagã. Assumir essas atitudes demonstra o quão
introjetada está a idéia de que acreditamos na unicidade de Gaia, que
acreditamos no nosso planeta como uma célula viva, da qual fazemos parte. Tais
atitudes remetem a leis grandiosas que nos ensinam que “tudo que está acima é
como o que está abaixo” e portanto somos todos um (essa frase inclusive virou
um clichê desgraçado, mas nem por isso deixa de ser verdade). De quê adianta
ter seu altar, cultuar um zilhão de panteões, celebrar todos os sabás e esbás,
saber o nome de todas as ervas do mundo, se quando você come uma bala joga o
papel no chão? São atitudes pequenas, que estão além da moda, do estereótipo,
introjetadas na mente subconsciente, estruturantes do caráter do ser, que nos
mostram o verdadeiro Paganismo, ou Neo Paganismo, que seja.
Então,
lá em cima, quando eu disse que conhecia muitos bruxos que não são pagãos,
acrescento ainda, que conheço muitos cristãos pagãos, muitas outras pessoas, de
outras religiões, que são muito mais pagãs que ditos grandes sacerdotes por aí.
Pessoas que sabem valorizar a vida, e respeitam todos seus aspectos, pessoas
que almejam um mundo melhor e lutam por ele, pessoas que seguem seus ideais de
maneira honrosa e não permitem que a modernidade as engula em seu turbilhão de
deturpações éticas. Não sei se cabe dizer que estamos num mundo estranhos aos
deuses antigos, e que talvez fizesse mais sentido cultuar a Heca-Cola que o
antigo Dionísio (que me perdoem as bacantes), mas devemos lembrar que certas
coisas são imutáveis. A evolução ocorre em seus ciclos ascendentes espiralados
e mesmo que não estejamos correndo pelados por aí ao redor de fogueiras (ai
como eu queria), repetimos padrões importantes da nossa espécie, e neles
encontramos ainda mais evolução. Se a batalha antes era feita nos campos, com
lanças e espadas, hoje é feita no mercado de trabalho, se antes plantávamos,
hoje trabalhamos um mês para “colher” um, nem sempre farto, salário. Certas
atitudes serão sempre consideradas pagãs, pois a Natureza somente se altera em
sua aparência, jamais em seus leis primordiais. Cabe aqueles que se consideram
pagãos perpetuar esse respeito, mantendo seu sagrado e assim não permitindo jamais
que o Paganismo se extingua.
Gaius Cauré
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